Meu Destino é Pecar | Nelson Rodrigues
Antes de se consagrar como o maior dramaturgo brasileiro, mas já tendo estreado sua obra-prima nos palcos (Vestido de noiva, 1943), Nelson Rodrigues começa a escrever folhetins em jornais para pagar as contas. O ganha-pão dá origem a um dos grandes romances brasileiros (Asfalto selvagem, 1961) e a uma série de outros livros, estes assinados sob pseudônimos. Meu destino é pecar (1944), por Suzana Flag, é o primeiro dessa linhagem. Nele, conhecemos Leninha, uma jovem sem graça que, para salvar a famÃlia da ruÃna, é obrigada a se casar com Paulo, fazendeiro rico, bêbado e grosseiro. Mas ela se encanta pelo irmão do marido, o belo e conquistador MaurÃcio, que anos antes se envolvera com a cunhada, Guida, morta em circunstâncias suspeitas. Sucesso estrondoso à época, a história cheia de suspense e piruetas narrativas contrariou os crÃticos do exacerbamento que leva os personagens a limites inverossÃmeis. Um dos eixos do romance é a disputa entre mulheres: pautadas por uma ideologia tradicionalista sobre o lugar delas na sociedade, tornam-se, a um só tempo, reféns e perpetuadoras de padrões supostamente definidores de felicidade. Nelson Rodrigues sempre demonstrou se deleitar com o chamado mau gosto inerente ao gênero, dizendo que sua fantasia e delÃrio o fascinavam. Em Meu destino é pecar, ele prova ser capaz de fazer disso uma arte.